Só o silêncio é grande

       Só o silêncio é grande; tudo mais é fragilidade. Alfred de Vigny

 Às vezes quanto mais falamos mais nos distanciamos do que realmente queremos dizer. E certas coisas só se deixam ser reveladas no não-dito, especialmente os mais profundos sentimentos: o verdadeiro ódio, o verdadeiro amor, a verdadeira indiferença. Todos eles florescem fortes e implacáveis onde a maioria supõe haver um deserto. Todos eles crescem no disfarce e se revelam quase sempre no susto: um suicídio, uma declaração romântica, um cumprimento da pessoa que você magoou. O silêncio é grande por intensificar os sentimentos, o que pode ser perigoso para quem tem uma mente obscura; e só os fortes  são capazes de lidar com ele por muito tempo sem enlouquecer. Um dos maiores pesadelos para um presidiário é ter de ficar em uma cela solitária sem  televisão ou algo para ler. Para eles o silêncio é o inferno que ecoa de suas próprias mentes criminosas. Já para os monges budistas e toda pessoa capaz de meditar, o silêncio é uma bênção capaz de aproximá-los de algo sublime e eterno. Mas eu estou longe de alcançar algum desses dois extremos. Não morro de desespero ou tédio mas também não o aproveito para alcançar o nirvana. Na verdade, admito uma certa dificuldade em me manter silenciosa e serena ao mesmo tempo. Estou sempre querendo falar, ouvir músicas ou  pensando em mil e uma coisas diferentes, e às vezes faço isso com o objetivo de não ouvir o que o meu silêncio tem a dizer.  E se ele me disser algo que eu não gostaria de saber? Dia desses ele me sussurrou umas coisas e eu simplesmente fingi ignorar. Era algo prazeroso mas extremamente complicado para se estar pensando... Então tentei distraí-lo lendo e ouvindo alguma coisa. De imediato achei que havia funcionado, mas depois percebi que foi em vão. Quando tudo silenciou, o sussurro ecoou ainda mais alto me mostrando uma verdade que eu deveria encarar, maior do que eu posso exprimir,  maior que palavras.