A COSTURA DA POESIA

Transcrevo hoje tb, um trecho de matéria sobre a poesia da prima Ana Luiza Burlamaqui, publicada no Novo Jornal (Natal-RN)

A COSTURA DA POESIA

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Transcrito do NOVO JORNAL

Por Franklin Jorge

Os mistérios e as sutilezas do universo feminino sobriamente tecidos em uma arte poética que não afeta essa retórica geralmente associada à literatura produzida por mulheres. Uma arte poética que se expressa naquele tom de segredo e revelação mesma da poesia no que ela tem de não-dizível ou indizível. Assim apresenta-se ao julgamento dos leitores a poesia de Ana Luiza Burlamaqui da Penha, autora de “Das Apresentações”, seu livro de estréia distinguido em 2008 com o Prêmio Othoniel Menezes de Poesia, atribuído pela Prefeitura do Natal. Pertencente ao ramo potiguar dos Burlamaqui, originários de Lucca, Itália, Ana Luiza nasceu em Mossoró e vive em Natal há muitos anos. É neta de Tibério Burlamaqui, que consta do “Panorama da Poesia Norte-rio-grandense”, de Rômulo Wanderley.

Apresentando-a em livro, após situar a autora em termos genealógicos, afirma o professor Marcos Antonio Filgueira, seu primo:“Embora nesse universo haja limites de compreensão para o meu coração de homem, fascinou-me compartilhar empaticamente dos desejos, das paixões e compaixões vertidas pela autora.

E, acrescenta logo em seguida:
“Não seria esse o verdadeiro objetivo da leitura?Assim, enternece-me a figura do fio de cabelo branco como elemento da tessitura do tempo (…) Esse desnudamento sempre ofertado ao público pelo poeta, feito por Ana Luiza, com arte e sentimento, nos permitindo compartilhar de sua alma, neste seu primeiro livro, firmando-se como poetisa e poetisa com pedigree. Nela não vi a tristeza apregoada na afirmação de Poe de que não há poetas felizes, mesmo quando ela diz que… sempre apressada nunca tive tempo de ser feliz…, antes, senti a vida manifestando-se através de uma…trilha musical que começa lá pelos becos do centro…que nos conduz como fio de Ariadne pelo inicio, meio e fim da obra, mas que o seu talento deixa entrever o ecoar continuado dessa melodia”.
A seguir, fragmentos de entrevista concedida pela autora:

NOVO JORNAL-Como se dá, no seu caso pessoal, o fenômeno estético?

Ana Luiza Burlamaqui da Penha - O cotidiano é o grande responsável pela captura dos momentos poéticos. Aromas, fragmentos de corpos, desejos retalhados, a contemporaneidade de um humano frágil e amoroso , estórias de vida , tempos tão descartáveis são elementos que permeiam a minha produção poética.

Que é poesia?
Ana Luiza -Poesia no meu conceito bem particular é uma provocação , encontros (leitor e autor) não previstos desencadeando emoções e identificações com o escrito.

Por que demorou tanto a revelar-se em versos?
Ana Luiza-Sou um tanto quanto indisciplinada na conservação dos meus escritos. Participei de concursos literários na época de colégio e universidade e outros sempre com boas colocações. Vivi minhas prioridades como trabalho e família e só agora estou resgatando e privilegiando a minha relação com a poesia, principalmente após ter ganho o prêmio Othoniel Menezes.

Como se dá, no seu caso pessoal, o fenomeno estético?
Ana Luiza -O cotidiano é o grande responsável pela captura dos momentos poéticos. Aromas, fragmentos de corpos, desejos retalhados, a contemporaneidade de um humano frágil e amoroso , estórias de vida , tempos tão descartáveis são elementos que permeiam a minha produção poética.



POEMA EXTRAÍDO DO LIVRO
Ana Luiza Burlamaqui da Penha

eu

a tesoura

o tecido

a agulha

e minha mãe

de cabeça baixa.

Falei surpresa

-Uma linha

no seu cabelo!

Sorriu respondendo

- Um fio de

Cabelo branco…
O tempo costurava a vida.

Comentários

  1. Tétis,
    Sempre bom o desnudar de sentimentos, esses que desvestimos em poesia para revestir o tempo de eternidades ser(pl)enas. Vida longa aos fios poéticos (que da amostra acima já me fisgaram feito agulha que não fere, apenas aguça docemente o paladar do tato) da prima Ana Luiza Burlamaqui...
    Tomara me fosse possível travar contato com o livro todo. Das apresentações, quem cuidaria?
    Prazer estar-me mais uma vez no Maktub, moça sensível do Norte...

    Abraço mineiro,
    Pedro Ramúcio.

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  2. Caro Pedro,
    Muito me alegra a sua visita!
    Deixei resposta em seu Blog.

    Um abração, poeta!
    Melhoras e volte sempre!

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  3. Diz o ditado popular: "Quem é vivo sempre aparece".
    Como vai, Deusa Tétis?
    Belo, belo, o poema da Ana Luiza.
    Mais um talento que descubro no clã Burlamaqui.
    Primeiro, Tétis. Depois, Ana Luiza.
    Motivos de orgulho para a família.
    Grandes dias e volte sempre à sua Secom inesquecível.
    Bjs bordados com fios de ouro.

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  4. Oww, Paulo!! Obrigadinha, viu! A Ana Luiza é fera mesmo. Vc precisa conhecer "Das apresentações".
    Os Burlamaqui tem mesmo esse lado artístico.
    Vinícius de Moraes, por exemplo, não carregou o sobrenome mas era neto de um Antônio Burlamaqui. É orgulho pouco? rs

    Gostei do bordado. Saudades de tu! Bjao!

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