Ninguém quer me matar

Estou numa fase em que não consigo me preocupar verdadeiramente com nada. Não se trata de falta de responsabilidade ou apatia, pelo contrário, é a certeza de que tenho feito tudo tão bem que nada poderia dar errado. E nada tem dado errado mesmo simplesmente por eu ter abolido antigas concepções que de nada contribuíam para o meu crescimento. O fato é que os problemas têm o tamanho que damos a eles. As alegrias também. E eu não acho um charme pessoas que posam de estressadas e workaholics, cujos bordões preferidos são ditos com uma falsa expressão de que estão preocupadas: “Ah, não tenho tempo”, “Ah, tenho mil e uma coisas pra fazer”, “Ah, tô cheio de problemas”! Claro que vez ou outra estamos realmente preocupados, ocupadíssimos ou estressados, mas chegar a ter orgulho disso, e pior, chegar a fingir estar assim só para passar uma imagem de homem do século XXI... você me entende, né? É o cúmulo...

Eu, por exemplo, jamais me orgulharia em ter trabalho demais (por mais prazeroso que fosse) e lazer de menos. E eu teria muita tristeza em dizer que trato uma gastrite crônica e que tomo remédios para dormir, tudo por conta de preocupações cotidianas. Aos que sofrem das mais diversas mazelas mas não têm orgulho disso; aos que têm angústias profundas mas desejam viver melhor, deixo um trechinho inspirador de um livro:

“Muitas pessoas chegam aos quarenta anos só para perceber que jogaram fora suas vidas. Em muitos casos tinham tudo a favor, mas, diante do desafio, não tiveram coragem de enfrentá-lo. Ninguém vai cortar seu braço direito, tomar sua motocicleta ou colocá-lo na cadeia se você fracassar.

Um amigo meu, filho de um homem que tinha ligações com o IRA, passava por um mau momento e foi pedir conselho ao pai.

Então ele disse: “Papai, estou com problemas.”

O pai perguntou: “Vão matá-lo?”

Ele disse: “Não, nada disso.”

E o pai respondeu: “Filho, você não tem nenhum problema”.

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Agora eu pergunto: Pra quê tanta pressa? Tanta preocupação? Tanto estresse?

Por um acaso vão matá-lo? (responda com calma e perto, mas bem pertinho de um espelho.)