Uma teoria que explica os gênios judeus

Veja On-line
Edição 1909 . 15 de junho de 2005


Estudo diz que brilho intelectual

de tantos judeus pode ser produto

da seleção natural





Ruth Costas



O conceito de que algum grupo étnico pode ser, na média, mais inteligente que outro não é apenas politicamente incorreto, mas também uma das raízes do racismo moderno. Por isso, tornou-se uma daquelas hipóteses postas sob quarentena depois da II Guerra. Assim, estudos científicos que sugerem o contrário causam grande controvérsia. No início do mês, um grupo de cientistas da Universidade de Utah, nos Estados Unidos, surgiu com uma hipótese polêmica, baseada na teoria da seleção natural das espécies, para um fato cuja natureza intriga os estudiosos de diversas áreas: a grande contribuição dos judeus à ciência, à filosofia, às artes, às finanças. Enfim, a todas as atividades humanas em que a inteligência é fator decisivo para o sucesso. Embora representem menos de 0,5% da população mundial, os judeus receberam 20% de todos os prêmios Nobel. Testes realizados com asquenazes, como são conhecidos os judeus originários da Europa Central e Oriental, constataram que a porcentagem dos que tinham QI acima de 140 pontos era cinco vezes maior do que entre o restante da população européia.



A nova teoria buscou a explicação em outra peculiaridade asquenaze – a grande incidência entre eles de certas doenças genéticas, especialmente a síndrome de Tay-Sachs. A medicina atribui a propagação da enfermidade à endogamia. Os cientistas de Utah acham que não. "Esses genes persistiram porque tinham uma função", disse a VEJA o americano Gregory Cochran, que liderou a pesquisa. "Foram preservados por um mecanismo de seleção natural porque, em circunstâncias específicas, permitiam que os indivíduos portadores tivessem mais chances de conquistar melhores condições de vida e ter mais filhos." Os genes responsáveis por essas doenças são recessivos. Ou seja, é preciso herdar dois genes defeituosos para desenvolver os sintomas – basicamente retardo mental e atrofia dos movimentos. Cochran sustenta que os neurônios das pessoas portadoras de um único gene sofreriam alterações pequenas, como a multiplicação das estruturas que fazem a conexão entre as células do cérebro, ajudando a ampliar a capacidade intelectual. Segundo o cientista, a combinação entre intelectos desenvolvidos, sucesso, casamentos endogâmicos e fecundidade criou as condições ideais para que a inteligência se tornasse um fator genético dos asquenazes, transmitido e depurado de geração para geração.



A hipótese, que será publicada pelo Journal of Biosocial Science, da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, não representa uma revolução. Ela apenas agrega novas idéias à tentativa de esclarecer um fato intrigante. Até hoje, a explicação mais plausível é cultural. Historicamente, os judeus, mais do que beneficiados pela seleção natural, desenvolveram deliberadamente a inteligência por meio da valorização do estudo. Sem saber ler, compreender e argumentar é impossível participar plenamente da vida religiosa da comunidade. "O judaísmo não é uma religião estática, de doutrinas. Os escritos devem ser interpretados e discutidos", afirma o sociólogo Bernardo Sorj, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro. No passado, era comum os asquenazes ricos escolherem os genros com base não na riqueza, e sim no desempenho do rapaz nos estudos rabínicos. Na Idade Média, os judeus europeus foram proibidos de exercer ofícios "nobres", como a exploração da terra e as campanhas militares. Confinados em guetos e sujeitos a impostos pesados durante mais de 1.000 anos, tiveram de desenvolver a habilidade intelectual necessária para se dedicar ao comércio e aos serviços. "O patrimônio intelectual dos judeus era a única coisa que ninguém poderia lhes tirar", afirma Robert Chazan, professor de estudos judaicos na Universidade de New York. Quando os portões dos guetos começaram a se abrir no século XVIII, muitos judeus abandonaram a prática da religião, mas mantiveram a tradicional ênfase no aprendizado. Investir na formação das futuras gerações era o único modo de garantir a continuidade dos valores e do povo judeu, daí por que ao longo de vários séculos tantas famílias não pouparam esforços em educar suas crianças. Semearam educação, colhem prêmios Nobel.



GUSTAV MAHLER (1860-1911),

judeu austríaco, uma das maiores figuras da história da música



ALBERT EINSTEIN (1879-1955),

judeu alemão, revolucionou a ciência com a teoria da relatividade



SIGMUND FREUD (1856-1939),

judeu austríaco, neurologista e pai da psicanálise



RICHARD FEYNMAN (1918-1988),

judeu americano, o mais influente físico teórico depois da II Guerra



JONAS SALK (1914-1995),

judeu americano, desenvolveu a vacina contra a poliomielite



ÉMILE DURKHEIM (1858-1917),

judeu francês, fundou a sociologia moderna

Comentários

  1. Mas como sempre paira aquela perguntinha... As mulheres, onde estão?

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  2. As mulheres, pra variar, sempre estiveram cuidadando das crias e da casa.hehe

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  3. As mulheres (mães judias) estavam educando os gênios.

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