Mais chocolate, menos Rivotril

A incessante busca por algo que no fundo sabemos que não tem valor. Culpa, ansiedade, sensação de estar desperdiçando tempo, sensação de não ter feito o bastante e de que o tempo é muito curto. Correr, correr. Ler todos os livros da moda, estar em todas as redes virtuais, saber o que ocorre no seu bairro e no Oriente Médio, falar 5 línguas, ser popular e ainda estar em forma. Se você é uma pessoa normal, certamente já sentiu ou está sentindo que seguir essa onda do “fast life” é pesado demais, e com um pouco de senso crítico, que você não só não precisa disso para sobreviver como deveria, na verdade, se livrar de vez dessa crença para se sentir bem. Podemos começar a mudar de rumo devagarzinho, por exemplo, com um singelo “dane-se” silencioso. Está um pouco abaixo ou acima do peso “ideal”? ...! Não domina bem as regras gramaticais nem do Português? ...! Não sabe quem é Mahmoud Ahmadinejad? …! Tudo acontece por um motivo, e se por acaso você se sente bem e está saudável mesmo estando fora dos “padrões”...! o resto! É o que importa! Nada deve ser mais importante do que sentir alegria por simplesmente estarmos vivos, por podermos caminhar, conversar, sentir, amar, sorrir, criar, tomar uma cerveja gelada ou comer uma torta de chocolate com Coca-Cola. Estamos quase sempre em busca do “grande sonho” idealizado de um amor perfeito, de um emprego muito bem remunerado, de uma grande e linda casa, da viagem a Paris, dos 15 minutos de fama, de um carrão na garagem. E na ânsia de um hipotético futuro glamouroso ignoramos a beleza dos detalhes simples da vida.

Em busca dessa perfeição materialista, uma grande ilusão, as pessoas têm adoecido cada vez mais, lotando os consultórios psiquiátricos e maquiando seu vazio interior a custa de longos e caros tratamentos. O Brasil, supostamente o país da alegria e descontração, é o segundo no mundo em cirurgias plásticas e o maior consumidor do ansiolítico de tarja preta Rivotril. Então, pasmem, na verdade somos o país no qual as pessoas estão mais insatisfeitas tanto física quanto mentalmente?! Alimentando sempre nosso ego com superficialidades, aprisionamos nosso espírito, nossa verdade, nossa humanidade.

Um livro que li e traz uma reflexão interessante é “Quando tudo não é o bastante”, do rabino Harold Kushner, o mesmo que escreveu o best-seller “Quando coisas ruins acontecem às pessoas boas” (que não li). Não se trata de um daqueles livros bobos de auto-ajuda, o autor bebe em Jung e nos presenteia com reflexões filosóficas que considero urgente e nos faz repensar sobre o sentido das coisas. Ao final da leitura, tive a sensação de ter muitas das dúvidas e angústias compreendidas e a certeza de que precisamos apenas de um pouco de humildade para perceber que “Uma hora neste mundo é melhor do que toda a eternidade que virá”, como dizem os sábios do Talmude. Então vamos saborear os momentos sem tanta ansiedade, com intensidade mas com uma pitada de sabedoria, sem culpa de sentir prazer e de sermos seres “imperfeitos” que envelhecem e inevitavelmente partem dessa para a melhor sem saber o porquê dos acontecimentos.

Então qual  o seu "chocolate" preferido? "Vai e come teu pão com alegria"! Agora! Caso contrário você é que ouvirá mais tarde a vida te dizer: ...! é chegada a hora..

"Ser o que somos e vir a ser o que somos capazes de ser é o único objetivo da vida", Spinoza.

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