A bênção de estar só

"Há certo gosto em pensar sozinho. É ato individual, como nascer e morrer"
                                     
                                         


Se existe uma sensação que certamente pouca gente conhece é a maravilha que somente o “estar só” pode trazer.  A maioria, quando está só, entrega-se ao lamento e a busca desesperada por companhia, independentemente da qualidade ou do preço a ser pago. Estar só, para essas pessoas, significa algo assustador. E a explicação é simples: carência e conformismo ad infinitum.

Afirmo isso por experiência própria, já que tempos atrás achei que o “estar só”, nos diversos sentidos que isto implica, fosse algo ruim. Mas essa ideia não durou muito tempo. Ruim mesmo, concluí, é estarmos aparentemente juntos, aparentemente acompanhados mas íntima e profundamente solitários. Não é à toa que o “antes só que mal acompanhado” seja tão célebre. Portanto, em diversas situações, o mais inteligente é manter distância de certas pessoas e grupos, mesmo que momentaneamente você precise ficar “só”.

A despeito do que os extremamente carentes imaginam, estar só em nada se assemelha a solidão.  É, na verdade, o extremo oposto disso: o encontro consigo mesmo, uma pausa para a renovação e, consequentemente, a certeza de novos e proveitosos encontros. Encontros com os filmes, com a música, com os livros, com as viagens, com um novo curso, com festas, com o silêncio, com outras pessoas: encontro com o que você se propor a encontrar, encontro com uma realidade inédita pelo fato de você dispor, enfim, de um tempo só, de um tempo livre para você mesmo. 

É natural que conhecidos um pouco mais folgados te perguntem, quando te reencontram, não apenas sobre sua vida profissional, mas também pessoal. Dependendo da sua idade, esta última pode variar entre “Ainda está com fulano(a)?” “Acabou por quê?”; Está namorando? Já casou? Tem filhos?" ou um olhar desconfiado de “Pqp, qual o seu problema?Por que não está com alguém?”. Sei que você está rindo por ser um dos que perguntam ou um dos que são “agraciados” com essas naturais curiosidades humanas. Eu estou rindo ainda mais porque “me divirto” respondendo e, dependendo do dia e da pessoa, também lanço minha lista de perguntas folgadas e tudo se resolve rapidinho...

Explicar sobre a bênção de estar só para pessoas assim é como tentar fazer aqueles índios americanos enxergarem as naus de Colombo... então desista logo ou tenha paciência. Enquanto isso, os que enxergam além-mar sabem exatamente que navegar é preciso, viver, não; e que cada hora da viagem e cada destino apresentam surpresas e sutilezas, lágrimas e sorrisos que, na verdade, geralmente dependem apenas deles próprios.

Também é verdade que “nenhum homem é uma ilha”, portanto, respeitar os próprios sentimentos e superar fases é algo que nos torna, enfim, mais humildes e equilibrados.   Sempre que começar a se sentir enjoado ou entendiado com o ritmo das ondas, lembre-se que por vezes será melhor ficar apenas como passageiro dos navios, em outras, Ah! não haverá bênção maior do que estar só e aventurar-se por mares nunca dantes navegados. Avante!

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