Minha primeira vez no RIO
Rio! Ah, o Rio! Poucas palavras causam tanta polêmica quanto essa.
Falar em Rio de Janeiro é entrar num turbilhão de fatos e mundos, onde o amor e
ódio duelam para no final fundirem-se numa tão dantesca quanto singela paisagem.
O Rio é o Brasil! Pelo menos assim fomos vendidos lá fora - e por aqui também –
pra resumir. As páginas da história explicam o porquê, e ainda que não
represente uma realidade de fato, simbolicamente simplesmente o é.
Quem nunca quis conhecer o Rio que atire seu primeiro CD de
samba fora. Ou de Bossa Nova. Ou de Cazuza. Ou de Tim Maia. Ou de Funk mesmo! E
toda essa melodia disseminada há tanto tempo pela Globo, antes de eu nascer...
Esta é como se fosse o sobrenome, ou no mínimo a boca do Rio, além de ser o
petisco oficial de suas praias... Tentar dissociá-los é querer ignorar que são
partes de um mesmo sistema, sistema que tantas vezes nos alegrou e depois nos
deu uma bela rasteira. E como dói a queda! Principalmente pelas tramas do
tecido serem tão intricadas, que culpabilizar A ou B não parece melhorar o
produto. Nos autopuxamos nosso próprio tapete e quando nos levantamos ainda
jogamos a sujeira por debaixo dele. Assim é o Rio-Brasil!
Comprei as passagens em segredo. “Se eu disser antes, vão
ressaltar tudo o que eu já sei – de ruim, claro – menos entrar na minha vibe “do
Leme ao Pontal não há nada igual”. Te amo, Tim! Mas quando fui avisar, reuni os
mais chegados como se estivesse me despedindo mesmo. “Seguinte, vou pro Rio. Já
está tudo agendado e até pago. Estou e serei feliz lá, mas caso eu morra o
seguro cobre o traslado. Não que eu queira morrer mas pode acontecer, né! Em
qualquer lugar. Então, aceito orações e boas vibrações. Não volto atrás. Vou pro Rio no dia tal”.
Uma semana antes da data da viagem, um carro me encurrala na
esquina de casa em Natal e gritam pra eu passar a bolsa. Não passei. Saí
correndo. Era a segunda vez que eu escapava assim. Reação de luta e fuga não
passa pela razão. Pois é...pois é... E aqui também não é violento?! O pior já
poderia ter ocorrido por aqui mesmo, então não por isso deixaria de viajar. O
jeito é ir tomando alguns cuidados.
08/11/2019 (Exatamente um ano atrás)
“Minha alma canta
Vejo o Rio de Janeiro
Estou morrendo de saudades
(...) Dentro de mais
um minuto estaremos no Galeão”
Pensei que era conversa, mas
realmente aterrissamos ao som do “Samba do Avião”. Acho até que algumas pessoas
aplaudiram. Inclusive eu. Haha! Melhor boas-vindas que essa só a que viria
depois..
Meu destino inicial seria em Botafogo, pois havia me
interessado por um curso de Cabala sediado na rua Voluntários da Pátria. Já
tinha avisado sobre minha escolha ao meu paquera-carioca-que-conheci-em-Natal (ele
mesmo que me havia lançado o convite), e a uma colega natalense que havia se
mudado para lá e se casado com um carioca. “Ficarei em Botafogo, assim e
assado. Nos encontraremos por lá. Detalhes em breve”. Porém, contudo,
todavia...Feeling é feeling, né?! Então no meio de um caminho que poderia ser
florido de paixão e amizade, o clima começou a esfriar, ou melhor, congelar. Cancelei
tudo em Botafogo e nem os avisei. Se os gelos flutuassem encontrariam um
iceberg e tudo resolvido. Sem mágoas. Simplesmente acontece por vários motivos,
não por maldade em si. Eu nem estava indo por conta de convite, muito menos por
conta da colega, e havia deixado isso claro. Eu estava indo porque estava livre
em pleno início de novembro e sempre quis conhecer o “BraRio”, por motivos
históricos, culturais, familiares e agora, até cabalísticos. Se por acaso fosse o
caso aí sim os encontraria.
Meu destino era outro
COPACABANA. Isso é tão óbvio que nem acredito que havia
cogitado ficar em outra localidade. Então fui. Era cedinho da manhã quando
cheguei à Cidade Maravilhosa e ao magnífico e imponente Rio Othon Palace – um 5
estrelas em plena Av. Atlântica. Só deu tempo de guardar a mala e tomar um
cafezinho na padaria da esquina. O check-in só começava à tarde e de repente algo
inesquecível aconteceu: ele, aquele outro, monumentalmente gato, realmente surgiu bem à minha
frente, ali em frente ao Hotel. Ele veio!!! E nesse encontro instantaneamente
caloroso, os meus Roberto Cavalli caíram do meu rosto e se espatifaram ao chão. Sustinho e risos, e logo saímos passeando
pelas ruas de Copa. Ele pilota bem. Nem perguntei para onde íamos. Neste, meu
feeling cabalístico confiou (piada interna), e assim vivi meu primeiro e maravilhoso dia por lá.
No total foram 10 dias. Eu não tinha nenhum objetivo urgente
além de passear e conhecer alguns pontos turísticos – se desse. Meu compromisso
era em me sentir bem e seguir os bons sinais que iam aparecendo, sem tanta
pressa. Após alguns dias no Rio Othon, mudei-me para um pequeno apartamento,
vulgo Studio, Loft ou Kitnet? Desconheço a diferença entre eles. Também ficava
em Copacabana, mas na Avenida Princesa Isabel. Era novo, moderno e infinitamente
mais em conta, por óbvio. A anfitriã foi ótima e me senti em casa.
A cidade estava chuvosa e fria, dando umas tréguas somente
aqui e acolá, o que me deixou ligeiramente triste, mas não deixei de curtí-la
assim mesmo. Escolhi uma boa empresa e fiz logo o city tour mais completo:
conheci o bondinho do Pão de Açúcar, o Cristo Redentor, a Catedral de São
Sebastião, escadarias Selarón, Arcos da Lapa, o Sambódromo, Maracanã, passando
também pela Baia de Guanabara e Aterro do Flamengo. Por outro lado, acabei rejeitando convites e
mais convites, como os para turistar na Rocinha e Vidigal, badalar na noitada
da Lapa, passear pela região dos Lagos, e ir num show de samba não sei aonde. A
verdade é que eu já tinha ganho a viagem em muito pouco tempo e estava
muitíssimo feliz passeando tranquilamente do Leme ao Leblon. À pé, de carro ou de Scooter... Eu não
precisava de nada mais. Não estava na vibe de fazer mil e um amigos, mil e uma
coisas, de maratonar todos os pontos turísticos e muito menos de me arriscar
desnecessariamente. As pessoas me diziam: ainda falta Jardim Botânico, Parque
Laje, Pedra da Gávea, passeios ultra radicais etc, etc.. “Queridos, o Rio é
imenso, né! Vou ser franca: em 10 dias dá mesmo pra bater essa lista aí, o
detalhe é que não tô afim. Sinceramente, o city tour que fiz já superou total
minhas expectativas. Desse modo pretendo passar o resto dos dias “só” por aqui
mesmo”.
E assim fui passeando tranquilamente pelo Leme, lojas e botecos da Av. Nossa Senhora de
Copacabana e também pelo famoso calçadão; indo à pé ao Shopping Rio Sul (para
isso atravessava o Túnel Coelho Cintra, que fica sob o Morro da Babilônia, e é conhecido
como Túnel do RioSul , Túnel do Leme, e por ser bem perigoso. Então eu só
atravessava por sempre haver viaturas e policiais fortemente armados por ali).
Aliás, do Leme ao Leblon viaturas e policiais armados até os dentes é o que não
faltam! O que por um lado me trazia uma sensação de segurança, e por outro me
lembrava de todos os problemas sérios.
Voltando aos passeios, foi muito legal caminhar e tomar uma
aguinha de coco em Ipanema, ouvindo um músico independente cantando Bossa Nova
ao lado; ir até o Shopping Leblon e descer à pé até a praia, desconhecendo que
ali ao lado existia uma tal de comunidade da Cruzada S. Sebastião, que por sinal tem uma
história e tanto; e claro, curtir muito o Forte de Copacabana, meu lugar
favorito de todos os que fui.
Meu Forte
A combinação de interessantes elementos paisagísticos,
históricos, geográficos e gastronômicos do Forte de Copacabana me impressionou
grandemente. Um bom apreciador não é blasé, sabe quando está diante de uma
preciosidade e se rende aos encantos.
Meu avô Nestor, pai do meu pai, e que sequer cheguei a conhecer,
tinha servido como militar por 10 anos no Rio. Então isso somava-se a tudo e
gerava um sentimento curioso e nostálgico. Imaginei se ele havia passado por aquele
Forte também e se estava me acompanhando e protegendo durante a viagem. Uma viagem
histórica, com uma vista inacreditavelmente bela e um Capuccino da Confeitaria
Colombo! Nem queria sair de lá! Só queria “uns trocados” a mais para me
hospedar no Fairmont (que fica bem em frente) sem ir à falência. Seria querer
demais?
Reencontro com o sumido
Não reencontrei a colega mas dei uma chance para o sumido do
convite se expressar, ali do meio pro final da viagem. Fomos, à noite, para um barzinho à
beira-mar em frente ao Hotel Hilton e tivemos uma conversa madura e agradável
sobre o nosso Desencontro. Ele foi educado e desculpou-se por no meio do
caminho simplesmente ter conhecido outra pessoa, no que respondi: “Você poderia
ter falado abertamente antes, mas eu já desconfiava. Ou melhor, tinha certeza!
Então tudo tranquilo. Fico feliz por vc e por mim tb, porque assim... IDEM!”
Ele fez cara de espanto, sem processar a informação. Como assim? Perguntou-me, como se só ele tivesse esse "direito". “Vc
sabe muito bem o que IDEM significa! Está tudo tranquilo e resolvido. Estamos
kits. Você não está feliz? Eu também! Nem precisamos entrar em detalhes.
Estamos empatados”.
Ele até fingiu ter aceitado, mas depois ficou fazendo charme. E o bicho era muito charmoso mesmo, no alto dos seus 50 e poucos. Resisti bravamente...
Tive sorte
Considero ter tido muita sorte por nada de mau ter me
ocorrido, já que muitos “quase” realmente ocorreram. Quase fui atropelada,
quase fui assaltada, quase fui parar no hospital, saí do apto pra jogar o lixo
e a porta automática fechou-se e o cartão estava lá dentro (ainda bem que a
proprietária não só morava no mesmo prédio, como estava em casa e tinha um
cartão extra pra abrir); foram vários momentos que quase ficaram piores mas não
passaram de pequenos sustos.
Voltarei
Fiquei de voltar em março de 2020. Ai
que piada sem graça esse tal 2020! O ano de tantos e tantos cancelamentos...e
mudanças de rumos.
Mas claro que voltarei! É o que
penso. Não é urgente e já moro em Natal, que é uma cidade fantástica e com sua
própria magia praiana também. Mas voltarei, sim, se for possível. Porque apesar
de todas as verdades brutais, tive uma experiência maravilhosa, uma boa
impressão, e até hoje caminho com o bracelete de borracha que diz “I love RIO”.
PS: Morreu hoje a cantora Vanusa, cuja música "Paralelas" (letra de Belchior), marcou muito minha visita ao RJ.
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